Data: 06/08/2014
Autor(es): Marina Grossi
Presidentes de grandes empresas criaram um projeto que busca dialogar com o futuro governo, tendo com fio condutor a sustentabilidade
O Brasil de 2050 é bem-educado, as pessoas têm acesso à saúde, moradia, alimento, água limpa, saneamento, segurança e lazer. As cidades oferecem diferentes formas de transporte interligadas, os edifícios produzem sua própria energia. Os materiais são reaproveitados e quase não existe desperdício na construção civil nem na produção de alimentos. O consumidor dá preferência a produtos e serviços de menor impacto socioambiental e as empresas brasileiras se tornam mais competitivas no cenário global.
Esse otimismo –detalhado no documento “Visão Brasil 2050”, lançado na Rio+20, em 2012– decorre do fato de ele expressar o ideal de país construído com tecnologias hoje já existentes, e não de cenários projetados a partir de expectativas da economia.
É esse o país desejado e possível de ser construído, mas ainda a anos–luz do retrato atual. Para a transformação acontecer é preciso agir agora e de forma orquestrada, em um planejamento de longo prazo, com visão sistêmica, que congregue os planos de investimento das empresas e dos governos para atender às demandas da sociedade, que deve acompanhar esse planejamento de forma transparente e organizada.
Com isso em mente, mais de 20 presidentes de grandes empresas de diferentes setores se uniram em torno do projeto “Agenda CEBDS por um País Sustentável”. Formatado ao longo dos últimos dez meses, o documento é lançado pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) com essas lideranças.
O texto reúne 22 propostas divididas em cinco objetivos principais: agregar valor aos produtos da indústria brasileira; valorizar e proteger os ativos e recursos naturais brasileiros; ampliar o acesso à infraestrutura e a serviços básicos e de qualidade para a população; promover a eficiência e qualidade de vida nos centros urbanos brasileiros; e liderar a transição para a economia de baixo carbono.
Constam do documento propostas capazes de fazer o país liderar a economia verde, como a criação de um selo Brasil que possa diferenciar no mercado internacional os produtos brasileiros com menor impacto ambiental, a adoção de critérios de sustentabilidade nas compras públicas a partir de uma abordagem de ciclo de vida, a ampliação da oferta de transporte público de qualidade, a construção de uma matriz energética mais equilibrada, entre outras ações.
Diante da crise hídrica que estamos vivendo atualmente, é importante pensar em soluções como a de estabelecer uma política de bonificação tarifária para adoção de tecnologias de eficiência e consumo inteligente no uso da água na indústria, no comércio e em ambientes residenciais e rurais, o que estimula o uso mais racional do recurso, por exemplo.
Para a ampliação da oferta de transporte público de qualidade, a “Agenda CEBDS por um País Sustentável” propõe a diversificação de opções de transporte e a informatização da operação, além da fiscalização. Os vergonhosos índices de saneamento no país poderiam melhorar, por exemplo, com o estabelecimento de metas, via Lei de Responsabilidade Sanitária, com penalização ou premiação dos gestores públicos e privados, conforme seu desempenho. Essas são algumas das propostas que o documento reúne.
A “Agenda” transcende o processo eleitoral deste ano. Busca dar início à construção de um diálogo estruturado de lideranças de grandes empresas com o futuro governo, tendo como fio condutor a sustentabilidade. A aliança entre esses dois setores é o único caminho para a criação de um novo modelo de desenvolvimento capaz de valorizar nossos ativos e melhorar a qualidade de vida dos brasileiros.
MARINA GROSSI, 55, economista, é presidente-executiva do CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
Fonte: Folha de S.Paulo
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